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 Paulo de A. Ourives - Jornalista




Paulo de Almeida Ourives

Pós-Graduado em Assessoria de Comunicação pelo UNIFLU-FAFIC - Faculdade de Filosofia de Campos e Bacharel em Comunicação Social com especialização em Jornalismo.

 

 

Crônicas

 

O “empadinha”

 

Existem coisas na vida que não esquecemos nunca, uma delas foi quando eu  morava em Marataízes. As pessoas me viam na praia pela manhã todo maquiado e uniformizado e à tarde me reconheciam quando andava pelas ruas daquele balneário, que hoje possui ares de município emancipado.

As crianças sempre que me viam apontavam os seus dedinhos e falavam para o pai, a mãe ou os tios, “olha lá o empadinha!”. Isso tudo porque eu trabalhava vendendo empadas na praia e sempre os atendia com toda a educação, principalmente os mineiros, que estavam em maioria ali naquela praia.

Não importava o lugar que fosse, seja no supermercado, na sorveteria, nas quadras de volei que eram montadas na rua. E até dentro da Igreja, aparecia um dedinho a apontar na minha direção e a frase “olha lá o empadinha!”, vinha a seguir.

Nesse período lembro apenas de três crianças, que o tempo infelizmente fez com que eu apagasse da memória os seus nomes. Das três, uma delas coitada, quase ficou com torcicolo quando pela manhã, eu fui até o supermercado cedinho para comprar alguma coisa para colocar nas empadas que minha mãe fazia e aquele garotinho passou por mim, com o dedo em riste apontando em minha direção e falou para o pai dele, “olha pai, é o empadinha!”. Eu meio de soslaio, dei uma pequena olhada e ri daquela situação, o pai puxando o filho pela mão, e este coitado, com o dedo e a cabeça voltados para a minha direção, como a distância aumentava fiquei preocupado se aquele garotinho teria ou não um torcicolo tão cedo, por minha causa.

Uma outra situação que me deixou em plena sinuca de bico, foi quando numa tarde de domingo, eu me dirigia para a Igreja, para assistir à missa, e um dos garotos que conhecia, estava sentado no banco da frente da Igreja. Eu que sempre fiz questão de entrar pela porta principal, assim o fiz, e sentei-me no meio da igreja, em algum banco do lado esquerdo.

Sempre gostei de chegar cedo, principalmente naquelas missas da tarde, pois assim me preparava convenientemente para assistir a missa e ouvir as palavras do padre. Antes da missa começar, o pai das crianças, chegou um pouco depois de mim, e o garoto resolveu levar o pai até onde estava a sua mãe, foi aí que eu reparei que ela estava sentada do lado oposto onde eu estava sentado. O garoto me viu e não falou nada, mas eu com um leve sorriso fiz um cumprimento bem discreto. Logo depois ele resolveu voltar para onde estava sentado, bem na frente, ao lado da sua irmã, que era poucos anos mais velha do que ele.

No meio da missa, pouco antes da comunhão, quando todos os fiéis se cumprimentam, eu que já nem me lembrava do garotinho, fiquei envergonhado com a atitude dele. É que naquele momento, ele e a irmã resolveram vir até o banco onde estavam os seus pais, e ao cumprimentá-los ele apontou o dedo em minha direção e falou alto para que todos escutassem, “Pai, Mãe, olha lá o empadinha!”, eu fiquei ali no meu banco completamente corado de vergonha, mas acabei por atravessar o corredor e cumprimentar aquela família, e ser reconhecido por quase todos os fiéis presentes, como o vendedor de empadas.

Numa outra situação, um garotinho de mais ou menos três anos de idade, me viu na quadra sentado, esperando a hora de começar a partida de vôlei, e me perguntou se eu era o empadinha. Como ele não havia me reconhecido, resolvi fazer então uma brincadeira com ele para saber até onde iriamos com aquilo. Disse para ele que já tinha ouvido falar que havia na praia um vendedor que era muito parecido comigo, mas ainda não tinha tido a oportunidade de conhecê-lo - curiosamente, as pessoas que se parecem não acreditam que são tão parecidas com as outras, não é mesmo?

E aquele garotinho ali, em sua inocência, não havia me reconhecido, e disse que no dia seguinte ele ao ver o empadinha iria me apresentá-lo.

No dia seguinte, quando fui para a praia caracterizado com a minha vestimenta de vendedor de empadas, vi o menininho sentado na areia, meio emburrado, cheguei perto e perguntei o que estava acontecendo, e ele meio chateado, disse-me que no dia anterior havia conhecido um cara que se parecia comigo, os irmãos ao lado dele, morriam de rir dele, pelo fato dele não ter me reconhecido, condoído diante daquela situação não fiz por menos, ao revelar que na verdade eu havia lhe pregado uma peça, fi-lo por merecer uma deliciosa empadinha quentinha de frango, como ele gostava, sem que fosse necessário que o seu pai me pagasse por isso, apenas pelo prazer de ter conquistado a confiança de mais uma daquelas crianças que tanto me adoravam, e ao me verem na praia, corriam em minha direção, a desejar a empadinha mais saborosa daquela praia.